verdade
Se pudesses estar agora aqui comigo, esquecendo as consequências, devolveria o espaço e o tempo à abreviatura das gotas da chuva e da respiração suave da tarde parcialmente nublada. Queria apenas tocar-te, maculado pelas improbabilidades e impossibilidades que a vida me impõe. Correria esse risco para ter um afecto teu. Velando as tuas mãos como único tesouro do mundo. Perceberia a cor dos teus lábios sangrando desejos proibidos. Esta coisa do outono rompe-me o espírito, desarma-me aflito e menino, como se órfão de ternura. Imagino a tua voz quebrada na terra, de musgo e folhas cadentes que afugentam os resquícios do verão. A tua tristeza, bela, quase angélica como nos quadros renascentistas. E procuraria pelo teu hálito frutado, de ameixa seca ou uvas novas. Engoliria a maciez da tua língua, saciando-me na tua saliva, seiva última do milho envelhecido, esperando mãos virgens para a desfolhada. - Diz-me que me amas. - Não sei dizer-te isso. - Porquê? - Tenho medo. As lágrimas contra a ...